O CEGO DE NASCENÇA
“E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus”
João 9:1-3
Conforme já vimos em N vídeos deste canal, os evangelhos sinóticos parecem ter utilizado uma fonte em comum, a hipotética fonte Q e talvez Marcos. Já o evangelho de João é mais recente e destoa dos demais evangelhos. Em João judas não identifica Jesus com um beijo, Jesus tem um diálogo com Pilatos, Entra e fica dois dias com os Samaritanos etc.... Então o autor do quarto evangelho ou tinha outra fonte ou utilizava de licença poética para narrar e enfeitar as histórias.
E essa passagem do cego de nascença é a mesma narrada por Marcos e omitida por Mateus e Lucas.
Marcos | João |
E chegou a Betsaida; e trouxeram-lhe um cego, e rogaram-lhe que o tocasse. E, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia; e, cuspindo-lhe nos olhos, e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa. | E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus. |
Então os vizinhos, e aqueles que dantes tinham visto que era cego, diziam: Não é este aquele que estava assentado e mendigava? Uns diziam: É este. E outros: Parece-se com ele. Ele dizia: Sou eu. Diziam-lhe, pois: Como se te abriram os olhos? Ele respondeu, e disse: O homem, chamado Jesus, fez lodo, e untou-me os olhos, e disse-me: Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. Então fui, e lavei-me, e vi. Disseram-lhe, pois: Onde está ele? Respondeu: Não sei.
Levaram, pois, aos fariseus o que dantes era cego. E era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos. Tornaram, pois, também os fariseus a perguntar-lhe como vira, e ele lhes disse: Pôs-me lodo sobre os olhos, lavei-me, e vejo.
Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles.
Tornaram, pois, a dizer ao cego: Tu, que dizes daquele que te abriu os olhos? E ele respondeu: Que é profeta.
Os judeus, porém, não creram que ele tivesse sido cego, e que agora visse, enquanto não chamaram os pais do que agora via.
E perguntaram-lhes, dizendo: É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora?
Seus pais lhes responderam, e disseram: Sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu cego;
Mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe tenha aberto os olhos, não sabemos. Tem idade, perguntai-lho a ele mesmo; e ele falará por si mesmo.
Seus pais disseram isto, porque temiam os judeus. Porquanto já os judeus tinham resolvido que, se alguém confessasse ser ele o Cristo, fosse expulso da sinagoga.
Por isso é que seus pais disseram: Tem idade, perguntai-lho a ele mesmo.
Chamaram, pois, pela segunda vez o homem que tinha sido cego, e disseram-lhe: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador.
Respondeu ele pois, e disse: Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo.
E tornaram a dizer-lhe: Que te fez ele? Como te abriu os olhos?
Respondeu-lhes: Já vo-lo disse, e não ouvistes; para que o quereis tornar a ouvir? Quereis vós porventura fazer-vos também seus discípulos?
Então o injuriaram, e disseram: Discípulo dele sejas tu; nós, porém, somos discípulos de Moisés.
Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas este não sabemos de onde é.
O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto, pois, está a maravilha, que vós não saibais de onde ele é, e contudo me abrisse os olhos.
Ora, nós sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve.
Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença.
Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer.
Responderam eles, e disseram-lhe: Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós? E expulsaram-no.
Jesus ouviu que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus?
Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor, para que nele creia?
E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele que fala contigo.
Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou.
E disse-lhe Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem sejam cegos.
E aqueles dos fariseus, que estavam com ele, ouvindo isto, disseram-lhe: Também nós somos cegos?
Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece.
João 9:8-41
Tácito escreveu na sua obra História, que Vespasiano praticou curas milagrosas: restaurou a visão a um cego e curou um homem com uma mão doente. A cura do cego é semelhante a um episódio atribuido a Jesus em Marcos
Tácito, História, livro IV, capitulo 81
Nos meses em que Vespasiano esperava, em Alexandria, os dias dos ventos de Verão e mar estável, muitas maravilhas aconteceram, as quais mostraram o favor do céu e a inclinação das divindades por Vespasiano.
Um dos plebeus de Alexandria, conhecido por ser cego, prostrou-se de joelhos e implorou, soluçando, por uma cura para a sua enfermidade - a conselho do deus Serápis, a quem o povo cultivava entregando-se-lhe com superstição mais do que a qualquer outro - suplicou a Vespasiano que se dignasse molhar os seus olhos e rosto com cuspo. Outro, com uma mão doente, por conselho do mesmo deus, pediu que o César lha calcasse com a planta do pé.
Primeiro, Vespasiano riu e recusou. Eles insistiam de modo que ele, por um lado, receava o escândalo de uma tentativa frustrada, mas por outro lado a teimosia deles e as vozes dos aduladores induziram-no em esperança. Por fim, solicitou que os médicos estimassem se tal cegueira e debilidade estavam acima de ajuda humana. Os médicos discutiram diversos pontos: num deles a força da visão não fora consumida e poderia voltar se se removesse o obstáculo; no outro, a sua mão doente, se aplicada força curativa, poderia restaurar-se.
Talvez os deuses o quisessem e o divino ministério tivesse escolhido o imperador; por fim, o sucesso do remédio seria a glória do César, enquanto o ridículo em caso de insucesso cairia sobre os desafortunados. Assim, Vespasiano, acreditando que tudo era possível à sua sorte e que nada mais seria inacreditável, com o seu semblante alegre, entre a multidão em expectativa, acedeu aos pedidos. Imediatamente, a mão voltou ao uso, e o dia brilhou para o cego. Os que estiveram presentes ainda hoje o relembram quando nada ganhariam com a mentira....
Também Suetónio mencionou um episódio semelhante, mas em vez de curar uma mão doente, Vespasiano curou um homem coxo.
Suetónio, Vidas dos Doze Césares, livro X, Vida de Vespasiano, VII, 2 e 3
Vespasiano ainda não tinha prestígio nem uma certa divindade, por assim dizer, uma vez que ele foi um inesperado e ainda recém-feito imperador; mas estes feitos também foram-lhe atribuidos: um homem do povo que era cego, e outro que era coxo, aproximaram-se dele juntos, quando ele sentou-se no tribunal, pedindo a ajuda para os seus problemas que Serapis tinha prometido num sonho; pois o deus declarou que Vespasiano restauraria os olhos, se ele cuspisse em cima deles, e daria força à perna, se ele se dignasse tocá-la com o calcanhar. Ainda que ele duvidasse que isso poderia ter sucesso e, portanto, negasse mesmo tentar, ele foi finalmente convencido pelos seus amigos e tentou as duas coisas em público diante de uma grande multidão; e com sucesso. ...
Vespasiano Messias, segundo Cassius Dio
O autor romano Cassius Dio (viveu de 155 a 235 d.C.) também referiu os milagres de Vespasiano em Alexandria, no Egipto. Mas este autor já é de um tempo muito posterior, pelo que terá usado Tácito e Suetónio, entre outros, como fonte para os seus textos.
Cassius publicou a obra História Romana em 80 volumes, após 22 anos de trabalho.
Cassius Dio, História Romana, livro LXV, capítulo 8
Depois da entrada de Vespasiano em Alexandria, o Nilo transbordou, ficando, um dia, um palmo acima do normal; tal ocorrência, disse-se, só tinha ocorrido uma vez antes. O próprio Vespasiano curou duas pessoas, uma com a mão murcha, a outra cega, que veio a ele por causa de uma revelação em sonhos. Ele curou uma pisando a sua mão e a outra cuspindo nos seus olhos. Contudo, embora o Céu o engrandecesse assim, os alexandrinos, longe de deleitarem-se com a sua presença, detestavam-no de tal maneira que estavam sempre a zombá-lo e a injuriá-lo. Pois eles esperavam receber dele alguma grande recompensa, porque tinham sido os primeiros a fazê-lo imperador, mas em vez de ganharem algo, foi-lhes cobrado impostos adicionais.
A passagem em si é real?
Porque Mateus e Lucas omitiram essa cura?
Porque Marcos faz um relato bem simples e omite o confronto com os fariseus?
De onde o autor de João soube em detalhes sobre o que houve ao cego pós cura?
Porque os historiadores mencionaram a cura de Vespasiano mas não mencionaram Jesus?
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