terça-feira, 13 de outubro de 2020

O mito de Adão e Eva

 


ADÃO E EVA

 

A história do gênesis não foi escrita por Moisés. É uma combinação de estórias de períodos posteriores, compiladas pós Babilônia, provavelmente por Esdras. 

 

            Gênesis 1 

               Gênesis 2 

Como Deus é chamado 

No princípio criou Deus (Elohim) o céu e a terra. 
 
Gênesis 1:1 

Estas são as origens dos céus e da terraquando foram criados; no dia em que o Senhor Deus (YHWHfez a terra e os céus, 
 
Gênesis 2:4 

 

Quando deus fez o homem 

criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criouhomem e mulher os criou. 
 
Gênesis 1:27 

 

viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhãdia sexto. 
 
Gênesis 1:31 

abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera. 
Estas são as origens dos céus e da terraquando foram criados; no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus, E toda a planta do campo que ainda não estava na terra, e toda a erva do campo que ainda não brotava; porque ainda o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para lavrar a terra. 
 
Gênesis 2:3-5 

Como criou 

criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. 
 
Gênesis 1:27 

Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea. 
 
Gênesis 2:20 

 

         

Essa história é uma adaptação de contos anteriores. O autor de gênesis não tinha a intenção de transmitir ciência ou a origem da humanidade, mas um midrash sobre a origem e queda do homem. É uma construção teológica.


Primeiro note que o Jardim do édem mencionado é na terra mesmo e não em um mundo espiritual:


“E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro braços. O nome do primeiro é Pisom; este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro. E o ouro dessa terra é bom; ali há o bdélio, e a pedra sardônica. E o nome do segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de Cuxe. E o nome do terceiro rio é Tigre; este é o que vai para o lado oriental da Assíria; e o quarto rio é o Eufrates. E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar”

Gênesis 2:10-15




Os primeiros habitantes da mesopotâmia tinha a pele avermelhada, por causa do sol, então eles tinham a ideia de que o homem fora feito de barro pelos deuses.


Então começam a surgir os primeiros mitos de criação semita, o mito de adapa. Adapa tem sua origem no termo vermelho. Na bíblia Adapa se transforma em Adam, que significa homem, mas tem a mesma raiz do termo vermelho, Adom: 


“E disse Esaú a Jacó: Deixa-me, peço-te, comer desse guisado vermelho (ADOM), porque estou cansado. Por isso se chamou Edom”

Gênesis 25:30


“E saiu o primeiro ruivo e todo como um vestido de pêlo; por isso chamaram o seu nome Esaú”

Gênesis 25:25


“Portanto Esaú habitou na montanha de Seir; Esaú é Edom

Gênesis 36:8


Vermelho         אֱדֹם

Homem            אָדָם

Edom               אֱדֹם


Nas línguas semitas eles faziam um jogo de palavra entre homem e vermelho por causa do barro.


Vamos ver o mito de Adapa:


Ele [Adapa] possuía inteligência. . . Seu comando era como o comando de Anu ... Ele [o deus Ea] concedeu-lhe um grande entendimento para lhe revelar o destino da terra, Ele lhe concedeu sabedoria, mas não lhe concedeu a vida eterna. Naqueles dias, naqueles anos o homem sábio de Eridu, Ea o havia criado como líder entre os homens, Um homem sábio cujo comando nenhum deve opor, O prudente, o mais sábio entre os Anunnaki era ele,


Imaculado, de mãos limpas, ungido, observador dos estatutos divinos,

Com os padeiros ele fez pão Com os padeiros de Eridu, ele fez pão,

A comida e a água para Eridu ele fez diariamente, Com as mãos limpas, preparou a mesa, E sem ele a mesa não estava limpa. 

O navio que ele dirigiu, pescando e caçando para Eridu. Então Adapa de Eridu Enquanto Ea, ... na câmara, sobre a cama. Diariamente o fechamento de Eridu ele atendeu. Em cima da represa pura, a represa da lua nova, embarcou no navio. O vento soprou e seu navio partiu.

Com o remo, dirigiu seu navio sobre o largo mar. . .O Vento Sul ... quando ele me levou para a casa de meu senhor, eu disse:


"Ó Vento Sul, no caminho eu vou ter contigo ... tua asa quebrarei."

Enquanto falava com a boca, a asa do Vento Sul foi quebrada, sete dias o Vento Sul não soprou sobre a terra. 

Anu chamou o seu mensageiro Ilabrat:

"Por que o Vento Sul não soprou sobre a Terra por sete dias?"

Seu mensageiro Ilabrat lhe respondeu:

"Meu senhor, Adapa, o filho de Ea, quebrou a asa do Vento Sul."

Quando Anu ouviu estas palavras, gritou:

 - "Ajudem-me!" e, subindo ao trono, disse - "Que alguém o traga." 

Entretanto Ea, que conhece os céus, soube disto... ele o fez vestir. Com uma roupa de luto ele o vestiu e lhe deu conselhos, dizendo: 

  - "Adapa, diante do rosto de Anu, o Rei, tu vais ... ao céu.

Quando subires e te aproximares da porta de Anu, na porta de Anu estarão Tammuz e Gishzida de pé.

Eles te verão, eles te perguntarão:

 - 'Senhor, por causa de quem veio, Adapa? Para quem está vestido de luto?'

 - 'No meu país, dois deuses desapareceram, portanto eu estou assim.'  [deves responder]

 - 'Quem são os dois deuses, que na terra desapareceram?'

 - 'Tammuz e Gishzida.' [deves responder]

Eles vão olhar um para o outro e ficarão surpresos.

Boas palavras eles vão falar a Anu.

Um bom semblante de Anu eles te mostrarão.

Quando estiveres de pé perante Anu

A comida da morte eles colocarão diante de ti. Não comas.

Água de morte eles colocarão diante de ti. Não bebas.

Roupa eles vão colocar diante de ti. Veste-a.

Óleo, eles te colocarão diante de ti. Unge-te a ti mesmo.

O conselho que te dei, não te esqueças.

As palavras que falei, mantém-nas firmes." 

O mensageiro de Anu veio:

 - "Adapa quebrou a asa do Vento Sul. Traga-o diante de mim."

O caminho para o Céu ele o fez tomar, e para o Céu ele ascendeu. 

Quando ele chegou ao Céu, quando se aproximou da porta de Anu, na porta de Anu, Tammuz e Gishida encontram-se de pé.

Quando viram Adapa, clamaram:

 - "Ajuda, Senhor, por quem apareces? Adapa, para quem estás vestido de um manto de luto?"

 - "No país dois deuses desapareceram, por isso estou vestido em roupas de luto."

 - "Quem são os dois deuses, que desapareceram da terra?"

 - "Tammuz e Gishzida."

Eles olharam um para o outro e ficaram espantados. 

Quando Adapa aproximou-se de Anu, o Rei viu-o e gritou:

 - "Diz, Adapa, por que quebraste as asas do Vento Sul?"

Adapa respondeu a Anu:

 - "Meu senhor, para a casa do meu senhor no meio do mar, eu estava apanhando peixe. O mar era como um espelho, o Vento Sul soprou e me virou. À casa do meu senhor fui levado. Na raiva do meu coração, eu tomei atenção."

Tammuz e Gishzida responderam ... "és tu". Para Anu eles falaram. Ele se acalmou, seu coração estava. . .

 - "Por que Ea revelou à humanidade impura o coração do céu e da terra? Um coração ... criou dentro dele, fez-lhe um nome? O que podemos fazer com ele? Alimento da vida trazei-lhe, para que coma."

Alimento da vida trouxeram, mas ele não comeu.

Água da vida trouxeram, mas ele não bebeu.

Vestuário trouxeram. Vestiu-se.

Óleo trouxeram. Ele se ungiu.

Anu olhou para ele, perguntou-lhe:

 - "Vem, Adapa, por que não comeste, não bebeste? Agora não viverás. "

... homens ...

 - Ea, meu senhor disse: "Não coma, não beba".

 - Peguem-no e levem-no de volta à sua terra.

... olhou para ele.

Quando [Anu] ouviu isso na raiva de seu coração

Seu mensageiro ele enviou.

Aquele que conhece o coração dos grandes deuses

.....

Ao rei Ea para vir,

Para ele, ele fez com que as palavras fossem suportadas.

...

 



A epopéia de guilgamesh

Em meados do século XIX, após a descoberta na antiga cidade de Nínive da biblioteca do imperador assírio Assurbanípal (668-627 a.C.), o mundo redescobriu as antigas grandes civilizações da Mesopotâmia em tábuas de argila contendo escritos em sinais mais tarde denominados cuneiformes. Civilizações estas de que até então, o pouco que se conhecia estava contido nos livros da Bíblia, em informações “escassas e pouco reveladoras, uma vez que estavam diretamente relacionadas com a história do povo hebreu”.(CORREA, 200-, p. 2).



Considerada a mais antiga obra literária da humanidade, a Epopéia de Gilgamesh na sua forma “tardia” (século VII a.C.) como é difundida no Ocidente (TIGAY6 citado por ZILBERMAN (1998, p. 58)), não foge à regra das obras de origens mesopotâmicas: um compilado de lendas e poemas, cuja origem e veracidade perdem-se na difusão oral, adaptação cultural e textos fragmentados. As narrativas contidas na epopéia deviam ser muito populares em sua época, pois são encontradas em várias versões escritas por vários povos e línguas diferentes, sendo que as primeiras versões da mesma, datam do Período Babilônico Antigo (2000-1600 a.C.), podendo ter surgido muito antes7 , pois o herói desta epopéia é o lendário rei sumério Gilgamesh, quinto rei da primeira dinastia pós-diluviana de Uruk, que teria vivido no período protodinástico II (2750-2600 a.C.)8 .

Devido à sua antiguidade e originalidade, muito se especula sobre a influência desta sobre textos mais difundidos e conhecidos pela humanidade, como os poemas épicos gregos Ilíada e Odisséia de Homero, escritos entre VIII e VII a.C.. Mas a polêmica é maior quando se comparados às narrativas do Pentateuco, a parte mais antiga do Velho Testamento, datadas do Primeiro Milênio a.C.. No caso desta última, o que legitima-nos a observar as influências, além de semelhanças impressionantes, o próprio contexto histórico e geográfico. Contexto este em que a origem dos hebreus e das grandes civilizações semitas são mescladas com a própria história do povo sumério. Históricos períodos de cativeiro, onde a aculturação era, além de inevitável pelas circunstâncias de sobrevivência, uma forma de dominação ideológica:

As semelhanças narrativas encontradas entre Epopéia de Gilgamesh e o Livro do Gênesis iniciam-se logo nos primeiros versículos da bíblia, ou seja, na criação do homem. O povo de Uruk, descontente com a arrogância e luxúria do rei Gilgamesh, exige dos seus deuses a criação de um homem que fosse o reflexo do rei, e tão poderoso quanto ele para que pudesse enfrentá-lo e redimi-lo. O deus Anu, ouvindo o lamento da população, ordenou a Aruru, deusa da criação, que fizesse Enkidu:


                         Guilgamesh 

                        Gênesis 

“A deusa então concebeu em sua mente uma imagem cuja essência era a mesma de Anu, o deus do firmamento. Ela mergulhou as mãos na água e tomou um pedaço de barro; ela o deixou cair na selva, e assim foi criado o nobre Enkidu”.(SANDARS, 1992, p. 94).  

“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.(GENESIS, cap. 1, ver. 26). “Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”.(GENESIS, cap. 2, ver. 7). 

 

Ele era inocente a respeito do homem e nada conhecia do cultivo da terraEnkidu comia grama nas colinas junto com as gazelas e rondava os poços de água com os animais da floresta; junto com os rebanhos de animais de caça, ele se alegrava com a água”.(SANDARS, 1992, p. 94)  

“E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam 
Gênesis 2:25 

 

“Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. E a todos os animais da terra e a todas as aves dos céus e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento”. (GENESIS, cap. 1, ver. 29-30). 

 

 

O rei Gilgamesh, sabendo da existência de Enkidu, incube uma missão a uma das prostitutas sagradas do templo da deusa Ishtar (deusa do amor e da fertilidade): seduzir Enkidu e trazê-lo para dentro das muralhas de Uruk. Enkidu deixou-se seduzir pela rameira e perdeu sua inocência, além de seu poder selvagem, tornando-se conhecedor da malícia do homem. Arrependido, lamenta-se, mas a rameira consola-o enfatizando as vantagens desta nova vida que está por vir:


                    Guilgamesh 

                     Gênesis 

 “Enkidu perdera sua força pois agora tinha o conhecimento dentro de si, e os pensamentos do homem ocupavam seu coração”.(SANDARS, 1992, p. 96).  

 

“Olho para ti e vejo que agora és como um deus. Por que anseias por voltar a correr pelos campos como as feras do mato?” (SANDARS, 1992, p. 99). 

Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. 
 
Gênesis 3:5 

 

Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, 
 
Gênesis 3:22 

 

Enkidu, já na cidade de Uruk, enfrenta o rei Gilgamesh em combate. Vencendo-o, é reconhecido pelo rei como irmão, pois este jamais havia enfrentado alguém com tamanha força. Formando-se então uma grande amizade que protagoniza grandes aventuras e tragédias ao longo da epopéia. Gilgamesh e Enkidu partiram então para a floresta de cedros (provavelmente, o atual Líbano), onde enfrentaram o monstro Humbaba, a sentinela da floresta.

Este se irrita com Enkidu, por profanar a floresta sagrada dos cedros inferiorizando-o e humilhandoo com palavras semelhantes às palavras de Deus, ao condenar o homem por comer do fruto proibido. Novamente não vemos relação direta entre os fatos, mas uma linha comum de pensamento é verificada entre os textos onde, a profanação e a desobediência são punidas com a servidão:


                    Guilgamesh 

                     Gênesis 

“… tu, um mercenário, que depende do trabalho para obter teu pão!” (SANDARS, 1992, p. 119). 

“… maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias da tua vida”.(GENESIS, cap. 3, ver. 16). 

 

 “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado”.(GENESIS, cap. 3, ver. 19). 


Na epopéia, Gilgamesh parte em busca da imortalidade, e para isso, precisa obter este segredo dos deuses com o imortal Utnapishtim (Noé do Gênesis). Para encontrar o imortal, Gilgamesh enfrentou uma longa jornada, cheia de perigos e provações. Ao encontrar Utnapishtim, ouve que este não poderá lhe tornar imortal, mas poderá revelar ao herói como se tornara um e conta do dia em que os deuses, desgostosos com a sua criação (a humanidade), resolveram eliminá-la da terra:


                   Guilgamesh 

                        Gênesis 

“Naqueles dias a terra fervilhava, os homens multiplicavam-se e o mundo bramia como um touro selvagem. Este tumulto despertou o grande deus. Enlil ouviu o alvoroço e disse aos deuses reunidos em conselho: ‘O alvoroço dos humanos é intolerável, e o sono já não é mais possível por causa da balbúrdia.’ Os deuses então concordaram em exterminar a raça humana”.(SANDARS, 1992, p. 149).   

 

Ea (deus da água doce e da sabedoria, patrono das artes e protetor da humanidade), avisa Utnapishtim em um sonho das intenções de Enlil e orienta-o de como sobreviver à catástrofe que estaria por vir: 

“Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”.(GE NESIS, cap. 6, ver. 5). 

  

 

“A terra estava corrompida à vista de Deus, e cheia de violência”.(GENESIS, cap. 6, ver 11).  

 

Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis, e as aves do céu; porque me arrependo de os haver feito”.(GENESIS, cap. 6, ver 7). 

 

“... põe abaixo tua casa e constrói um barco. Abandona tuas posses e busca tua vida preservar; despreza os bens materiais e busca tua alma salvar. Põe abaixo tua casa, eu te digo, e constrói um barco. Eis as medidas da embarcação que deverás construir: que a boca extrema da nave tenha o mesmo tamanho que seu comprimento, que seu convés seja coberto, tal como a abóbada celeste cobre o abismo; leva então para o barco a semente de todas as criaturas vivas. (...) Eu carreguei o interior da nave com tudo o que eu tinha de ouro e de coisas vivas: minha família, meus parentes, os animais do campo – os domesticados e os selvagens – e todos os artesãos”.(SANDARS, 1992, p. 149- 151). 

Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos, e a calafetarás com betume por dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento, de cinqüenta a largura, e a altura de trinta. Farás ao seu redor uma abertura de um côvado de alto; a porta da arca colocarás lateralmente; farás pavimentos na arca: um em baixo, um segundo e um terceiro”. (GENESIS, cap. 6, ver 14-16).  

“… entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos. De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares contigo”.(GENESIS, cap. 6, ver. 18). 

“Caiu a noite e o cavaleiro da tempestade mandou a chuva.(...) Por seis dias e seis noites os ventos sopraram; enxurradas, inundações e torrentes assolaram o mundo; a tempestade e o dilúvio explodiam em fúria como dois exércitos em guerra.” (SANDARS, 1992, p. 151-153). 

“… nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as portas do céu se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites”.(GENESIS, cap. 7, ver. 11- 12). 

“… agora eles (humanos) flutuam no oceano como ovas de peixe”. (SANDARS, 1992, p. 152). 

“Assim foram exterminados todos os serem que havia sobre a face da terra …” (GENESIS, cap. 7, ver. 23). 

“Na alvorada do sétimo dia o temporal vindo do sul amainou; os mares se acalmaram, o dilúvio serenou”.(SANDARS, 1992, p. 153). 

“Deus fez soprar um vento sobre a terra e baixaram as águas. Fecharam-se as fontes do abismo e também as comportas dos céus, e a copiosa chuva do céu se deteve”. (GENESIS, cap. 8, ver. 1-2). 

“Na alvorada do sétimo dia eu soltei uma pomba e deixei que se fosse. Ela voou para longe; mas, não encontrando lugar para pousar, retornou. Então soltei uma andorinha, que voou para longe; mas, não encontrando lugar para pousar, retornou. Então soltei um corvo. A ave viu que as águas haviam abaixado; ela comeu, voou de uma lado para outro, grasnou e não mais voltou para o barco”.(SANDARS, 1992, p. 153). 

“Ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela que fizera na arca, e soltou um corvo, o qual, tendo saído, ia e voltava, até que se secaram as águas sobre a terra. Depois soltou uma pomba para ver se as águas teriam já minguado da superfície da terra; mas a pomba, não achando onde pousar o pé, tornou a ele para a arca; porque as águas cobriam ainda a terra. Noé, estendendo a mão, tomou-a e a recolheu consigo na arca. Esperou ainda outros sete dias, e de novo soltou a pomba for a da arca. A tarde ela voltou a ele; trazia no bico uma folha nova de oliveira; assim entendeu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra. Então esperou ainda mais sete dias, e soltou a pomba; ela, porém, já não tornou a ele”.(GENESIS, cap. 8, ver. 6-12). 

“Eu então abri todas as portas e janelas, expondo a nave aos quatro ventos. Preparei um sacrifício e derramei vinho sobre o topo da montanha em oferenda aos deuses”.(SANDARS, 1992, p. 153). 

“Então Noé removeu a cobertura da arca, e olhou, e eis que o solo estava enxuto”.(GENESIS, cap. 8, ver 13). “Levantou Noé um altar ao Senhor, e, tomando de animais limpos e de aves limpas, ofereceu holocaustos sobre o altar”.(GENESIS, cap 9, ver 20). 

           

Enlil, furioso com Ea por ter permitido que um humano sobrevivesse e conhecendo o segredo dos deuses, viu-se sem alternativa que não a de transformar Utnapishtim em um imortal, para que sua maldição de que nenhum mortal sobrevivesse se completasse. Gilgamesh desapontado por não ter tido sucesso em busca da imortalidade, prepara seu retorno para Uruk, mas é abordado pela esposa de Utnapishtim que, compadecida com o fracasso do herói, revela-lhe o segredo da imortalidade em que, nas profundezas do mar, havia uma planta maravilhosa, e quem a comesse, seria eternamente jovem. O herói então mergulha no mar profundo, ferindo-se, mas obtendo a tão desejado segredo. Tomado de rara compaixão, Gilgamesh decide não comer sozinho o maravilhoso fruto, mas sim dividi-lo com os anciãos da cidade de Uruk. No retorno para casa, Gilgamesh é surpreendido por uma serpente marinha que lhe rouba a flor, perdendo para sempre o segredo da imortalidade:


“Se conseguires pegá-la (a planta sagrada), terás então em teu poder aquilo que restaura ao homem sua juventude perdida. (…) Vem ver esta maravilhosa planta. Suas virtudes podem devolver ao homem toda a sua força perdida. (...) mas nas profundezas do poço havia uma serpente, e a serpente sentiu o doce cheiro que emanava da flor. Ela saiu da água e a arrebatou”.(SANDARS, 1992, p. 160).


É impossível afirmar a influência direta da Epopéia de Gilgamesh sobre a escrita do livro do Gênesis, pois tanto um como o outro poderiam ter sido influenciados por histórias ainda mais antigas e difundidas no Oriente, ao mesmo tempo em que é inegável que o mundo situado entre o Mediterrâneo e os Montes Zargos, onde havia intensa circulação de mercadores de diferentes etnias e religiões variadas, era pequeno demais para descartar qualquer influência cultural entre eles.


A simbologia de gênesis 

 

O termo adão significa literalmente homem/humanidade, e conforme vimes no vídeo anterior o homem foi feito do barro: 

 

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” 
 
Gênesis 2:7 

 

 

Já Eva significa vida, o termo só aparece no capítulo 3: 

 

“E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes” 
 
Gênesis 3:20 

 

 

E serpente em muitas culturas era a representação de uma divindade conforme vimos no vídeo anterior. Porque a serpente trocava de pele, era astuta traiçoeira e perigosa. Então eles viam aquilo como um símbolo de renovação.


Por isso os hebreus a colocam como vilã da estória, conforme já dissemos aqui neste canal, o judaísmo surge antagonizando os cultos vizinhos, logo, o que era um símbolo de renovação desses povos se torna um símbolo de perigo na adaptação hebraica: 

 

“Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?” 
 
Gênesis 3:1 

 

Tomar esta estória como literal acarreta uma série de problemas: 

 

  • - Serpentes não falam 

 

  • -  Deus puniu o homem sem que ele sequer tivesse consciência ainda porque ainda não tinha comido da árvore do conhecimento, o homem não sabia nem sequer que estava nu 

 

  • - Deus coloca uma árvore proibida bem no centro do jardim 

 

  • - A serpente que tenta a mulher, mas quem são punidos são a mulher e o homem, sendo que eles são vítimas da serpente. 

 

  • - Quem mente na estória é Deus e não a serpente: 

 

        Deus disse: 

    A serpente disse: 

            Resultado: 

E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. 
 
Gênesis 2:16,17 

 

Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. 
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. 
 
Gênesis 3:4,5 

Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, 
 
Gênesis 3:22 


 

Só que a intenção do autor não era de dizer que era um animal literal. A intenção do autor é fazer um jogo de palavras com as palavras serpente e desejo, para dizer que a serpente, astuta, era o desejo de Eva: 

 

Serpente           נָחָשׁ              Nahash 

 

A serpente que tentou a Eva no jardim do Edén não passa de representação, personificação ou símbolo do próprio desejo egoísta de seu coração, Eva teve um diálogo com sua própria voz interior, sua imaginação, a voz de seu desejo egoísta, a cobiça partiu da própria Eva. Portanto a imaginação foi uma criação do próprio Deus, e realmente a imaginação do homem é a coisa mais astuta que existe. 
 
Serpente não pensa e nem tem imaginação....só uma criatura pensa, e esta é o ser humano, e foi essa a criatura que Deus criou e que era a mais astuta de todas. 
 

O que então seriam os juízos de Deus contra a Serpente?     
===================================     
Então Iahweh Elohim disse para a serpente: "Por ter feito isso, você é maldita entre todos os animais domésticos e entre todas as feras. Você se arrastará sobre o ventre e comerá pó todos os dias de sua vida. Eu porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a semente dela. Estes vão lhe esmagar a cabeça, e tu ferirás o calcanhar deles". (Gn 3:14-15)     
     
Na interpretação literal da alegoria quem sofre a punição é o animal chamado "a serpente", esta é a interpretação do sentido literal, mas no sentido que está oculto, não é o animal que deve ser subjugado e sim aquilo que ela representa [os desejos do coração que nos arrastam ao pecado].     
     
A semente da mulher representa aqueles que subordinariam a 'serpente' (o desejo ou inclinação para o mal, yetzer hará), esmagando-lhe a cabeça; naturalmente eles não sairiam incólumes desse processo mas com o 'calcanhar' ferido. Ou seja, sofreriam dano menor.     
     
A Serpente, Adão e Eva. Cada um representa uma coisa.     
     
Exemplo:     
     
 

*O Homem representa a RACIONAL.     

*A Mulher representa o EMOCIONAL.     

*A Serpente representa o DESEJO OU IMAGINAÇÃO.     

     
     
Sendo assim, a serpente é um símbolo mais do que apropriado para nossas paixões, vontades e desejos. No Éden, a mulher ouve a voz da “serpente” e cede à mesma.   

  

Razão e Emoção fazem parte de nosso ser, e a parte que cede ao desejo e às paixões é certamente a emoção, e Eva é um símbolo mais que adequado ao nosso eu emocional, por ter ela cedido aos apelos da “serpente”.    

    

Depois Adão “ouve a voz de Deus” no jardim, e se esconde. Ao ser interrogado por Deus, Adão responde (no singular): “Tive medo “Tive medo porque estava nu e me escondi”. Somente o nosso eu racional pode “ouvir a voz de Deus” e dar-se conta do estado em que nos encontramos; logo, Adão é o modelo perfeito da consciência, do racional.  

  

A pena aplicada à “serpente” é rastejar e comer pó. A mulher por sua vez, deve ter sua vontade sujeita a Adão [Gênesis 3:14 e 16].  

  

Se atentarmos para esses dois casos, notaremos que ambas as penalidades são idênticas, são na verdade uma só. Nossos desejos [a “serpente”] devem estar um nível abaixo de nós [“rastejar”], e nossa emoção [“Eva”] dever ser subjugada, dominada pela razão [“Adão”].   

  

Deus afirma que colocaria inimizade entre a semente da “serpente” e aquela da “mulher”, o que significa o contraste entre os desejos e as emoções e a luta que todos teríamos no futuro para subjugar nossas paixões quando as mesmas apelam não para o nosso aspecto racional, mas sim, para a parte mais frágil de nosso ser – o nosso eu emocional.   

 

_ Não amadinho, a serpente era o diabo. Nem existia diabo na época dessa estória, satanás aparece pela primeira vez no livro de Jó. E a própria bíblia diz que tentações são do próprio homem: 

 

“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” 
 

 
“Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios,Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem” 
 

 

_ Ah amadinho, mas no apocalipse diz que a antiga serpente é satanás: 

 

“Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos” 
 

 

“E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele” 
 

 

Conforme já vimos em N vídeos deste canal, diabo e satanás são eufemismos para inimigos. Note que no apocalipse a antiga serpente é o dragão que segundo o próprio livro é Roma. Então o autor do apocalipse faz uso da simbologia da inimizade entre os descendentes da serpente e da mulher para representar os inimigos de Israel: 

 

“E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” 
 
Gênesis 3:15 

 

 

  • - Serpente ou diabo tem descendentes? 

 

  • - A serpente se for literal, então ela evoluiu para um dragão? Dragões existem? 

 

  • - A serpente virou o império Romano no apocalipse? 

 

Logo, para o autor do apocalipse os descendentes da serpente seriam os povos inimigos, pessoas más, o que inclusive é parte do pensamento da corrente Joanina: 

 

“Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus. Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus. Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros” 
 

 

Portanto, são figuras de linguagem. Quem tentou Eva foi seu próprio desejo, concupiscência, não uma cobra falante literalmente. 

 




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